Tuesday, August 27, 2024

O GADO POLÍTICO (MITO ANTISSISTEMA)

 



Por Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

"A humanidade tem espírito de rebanho."

(Friedrich Nietzsche)

 

 

Há dois conceitos que são importantes na filosofia – seja qual ramos de estudo e até mesmo, na filosofia política – que o professor Paulo Ghiraldelli Jr sempre disse: o banal enquanto meio de dissolver aquilo como conceito e o leigo culto (que o professor Vitor Lima (INEF) adotou por ter sido aluno de Ghiraldelli), que é o individuo que busca o conhecimento para ir muito além daquilo que os outros acham que deve ir. Em um modo mais amplo, a filosofia nos mostra como ir mais além do senso comum e assim, tende a ter uma certa raiva desse senso comum e sai dele como se o conceito comum lhe parasitasse. Nisso eu concordo com o Paulo. Em seus vídeos – mesmo eu não concordando com muito deles – Ghiraldelli tira o povo do conforto e dá a ele algo desconfortável. Ser um leigo culto não é ler aquilo que concorda e te faz sentir feliz, é também, confrontar suas próprias ideias.

Aí vamos analisar um post de um perfil chamado PORRADA FILOSÓFICA no X-MUSK:

 

<<Gadaiada enfurecida aqui porque disse que os primeiros responsáveis para combater os focos de incêndio são os prefeitos e governador de SP. Uma gente tosca que vota no Estado mínimo, mas exige Estado máximo. Governo federal já agiu e não vai deixar que queimem os cascos. Relaxem!>>

 

Um perfil chamado PORRADA FILOSÓFICA achando que esta dizendo verdades e só escreveu obviedade. A questão de que prefeitos e governadores de São Paulo ter apagado o fogo, não tira a responsabilidade do governo federal de tomar providencias sobre o incêndio que, como tudo indica, foi criminoso. Isso não rebate aqueles que querem o estado mínimo (como eu), mas temos sim de cobrar posturas mais competentes para combater o fogo ou outras catástrofes ambientais como aconteceu no Sul. Ou não se paga imposto? Se se paga imposto, então, se tem que cobrar posições de dar a população. Como disse em um artigo em um blog do Medium – que acabei aposentando por não gostar do layout – ser libertário (não ANCAP) é defender um estado mínimo como garantidor de direitos e bem-estar para a população. Mas não sou idealista o bastante para achar que existe esse estado, e sim, sou realista e um cético politicamente.

Dai tenho duas perguntar para o perfil com um nome PORRADA FILOSÓFICA: o que seria o pensamento filosófico? E o porque que pessoas antissistema acabam tendo um líder político de estimação? Claro, analisando bem a questão do modo semântico que o autor escreveu seu texto, me parece bastante uma semântica olavista. Olavo de Carvalho – que se intitulava filosofo – sempre ficava atacando e nunca analisava as coisas de forma ampla. Porque só lia o que lhe interessava. Isso gerou o que o Olavo chamou de Vida Intelectual graças um livro do mesmo nome de um padre, onde ele constrói toda uma narrativa como as pessoas teria que ter uma viva intelectual. Só que não existe. Primeiro, as pessoas não devem só escutar ou ler aquilo que elas gostam e sim, deveriam ler aquilo que não concorda. Mesmo porque, se você não conhece aquilo que você não apoia, não vai criar uma crítica coerente.

Quem estuda filosofia sério ou academicamente sabe, que o pensamento filosófico tem a ver com a forma com que compreendemos a realidade e nos baseamos na reflexão crítica (Kant) e no questionamento mais profundo (Sócrates) sobre questões fundamentais da existência humana (Sartre). E vai muito além do que explicações cientificas e religiosas, investigando a natureza da vontade, da moralidade, da ética e dos valores. A filosofia (como criadora de conceitos) não seria um conjunto de conhecimentos prontos e sim, uma forma de pensar e uma postura diante do mundo. A filosofia, como uma ave de rapina (não a toa, o símbolo da filosofia é a coruja de Atenas), observa os acontecimentos além da sua aparência imediata (epoché) e pode se voltar para qualquer objeto, desde a ciência até o pensamento religioso. Também, vimos isso no pensamento artístico e na vida cotidiana (podemos incluir as redes sociais).

Em resumo, comparando o pensamento filosófico com a porrada filosófica, seria um exercício crítico e reflexivo que busca compreender e questionar diversos aspectos da existência humana. Ou seja, temos que ir além das banalidades humanas – que Nietzsche chamava de humano demasiado humano – e sempre ver além do que todo mundo ver, porque você não pode mais ser mais um nessa história.

E diante dessa explicação o que seria um pensamento filosófico, poderemos responder a segunda pergunta. Ora, pessoas antissistema frequentemente se sentem desiludidas com as instituições tradicionais e buscam alternativas que prometem mudanças radicais. Isso tem a com identificações com as narrativas, onde líderes antissistema (ou dizem ser) costumam usar uma retorica que ressoa com as frustrações e desejos de mudanças dessas pessoas. ou melhor, se mostram como outsiders que desafiam o status quo. Também existe o fator do carisma desses líderes que frequentemente possuem e se tornam símbolos de resistência e esperança para os seguidores. Para isso, esse líder identificam inimigos comuns (como a mídia, o sistema político tradicional, etc.), unindo seus seguidores contra esses alvos e fortalecendo a coesão do grupo. Eles tendem a oferecer soluções simples para problemas complexos, o que pode ser atraente para pessoas que se sentem sobrecarregadas ou desiludidas com a política tradicional. Seguir um líder antissistema pode proporcionar um forte senso de comunidade e pertencimento, especialmente para aqueles que se sentem marginalizados ou excluídos pela sociedade dominante.

E isso tem a ver com a “moral de rebanho” de Nietzsche. O filosofo (do bigode, como é conhecido) descreveu um comportamento humano submisso e irrestrito. Ele criticava essa postura, pois acreditava que ela impedia o desenvolvimento pessoal e a verdadeira expressão da vontade individual. No contexto de líderes políticos antissistema, podemos ver uma conexão com a ideia de Nietzsche. Mesmo que essas pessoas se considerem contra o sistema, elas podem acabar seguindo um líder de forma quase cega, adotando uma "moral de rebanho" ao aceitar as ideias e direções desse líder sem questionamento crítico.

Enfim, a “gadaiada” tem explicação filosófica.

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