Por Amauri Nolasco Sanches Júnior
"A humanidade tem espírito de rebanho."
(Friedrich Nietzsche)
Há dois conceitos que são importantes na filosofia –
seja qual ramos de estudo e até mesmo, na filosofia política – que o professor Paulo
Ghiraldelli Jr sempre disse: o banal enquanto meio de dissolver aquilo como conceito
e o leigo culto (que o professor Vitor Lima (INEF) adotou por ter sido aluno de
Ghiraldelli), que é o individuo que busca o conhecimento para ir muito além daquilo
que os outros acham que deve ir. Em um modo mais amplo, a filosofia nos mostra
como ir mais além do senso comum e assim, tende a ter uma certa raiva desse
senso comum e sai dele como se o conceito comum lhe parasitasse. Nisso eu
concordo com o Paulo. Em seus vídeos – mesmo eu não concordando com muito deles
– Ghiraldelli tira o povo do conforto e dá a ele algo desconfortável. Ser um
leigo culto não é ler aquilo que concorda e te faz sentir feliz, é também, confrontar
suas próprias ideias.
Aí vamos analisar um post de um perfil chamado
PORRADA FILOSÓFICA no X-MUSK:
<<Gadaiada enfurecida aqui porque disse que os primeiros responsáveis para combater os focos de incêndio são os prefeitos e governador de SP. Uma gente tosca que vota no Estado mínimo, mas exige Estado máximo. Governo federal já agiu e não vai deixar que queimem os cascos. Relaxem!>>
Um perfil chamado PORRADA FILOSÓFICA achando que
esta dizendo verdades e só escreveu obviedade. A questão de que prefeitos e governadores
de São Paulo ter apagado o fogo, não tira a responsabilidade do governo federal
de tomar providencias sobre o incêndio que, como tudo indica, foi criminoso. Isso
não rebate aqueles que querem o estado mínimo (como eu), mas temos sim de
cobrar posturas mais competentes para combater o fogo ou outras catástrofes ambientais
como aconteceu no Sul. Ou não se paga imposto? Se se paga imposto, então, se tem
que cobrar posições de dar a população. Como disse em um artigo em um blog do
Medium – que acabei aposentando por não gostar do layout – ser libertário (não ANCAP)
é defender um estado mínimo como garantidor de direitos e bem-estar para a população.
Mas não sou idealista o bastante para achar que existe esse estado, e sim, sou
realista e um cético politicamente.
Dai tenho duas perguntar para o perfil com um nome
PORRADA FILOSÓFICA: o que seria o pensamento filosófico? E o porque que pessoas
antissistema acabam tendo um líder político de estimação? Claro, analisando bem
a questão do modo semântico que o autor escreveu seu texto, me parece bastante
uma semântica olavista. Olavo de Carvalho – que se intitulava filosofo – sempre
ficava atacando e nunca analisava as coisas de forma ampla. Porque só lia o que
lhe interessava. Isso gerou o que o Olavo chamou de Vida Intelectual graças um
livro do mesmo nome de um padre, onde ele constrói toda uma narrativa como as
pessoas teria que ter uma viva intelectual. Só que não existe. Primeiro, as
pessoas não devem só escutar ou ler aquilo que elas gostam e sim, deveriam ler
aquilo que não concorda. Mesmo porque, se você não conhece aquilo que você não apoia,
não vai criar uma crítica coerente.
Quem estuda filosofia sério ou academicamente
sabe, que o pensamento filosófico tem a ver com a forma com que compreendemos a
realidade e nos baseamos na reflexão crítica (Kant) e no questionamento mais
profundo (Sócrates) sobre questões fundamentais da existência humana (Sartre). E
vai muito além do que explicações cientificas e religiosas, investigando a natureza
da vontade, da moralidade, da ética e dos valores. A filosofia (como criadora
de conceitos) não seria um conjunto de conhecimentos prontos e sim, uma forma
de pensar e uma postura diante do mundo. A filosofia, como uma ave de rapina (não
a toa, o símbolo da filosofia é a coruja de Atenas), observa os acontecimentos além
da sua aparência imediata (epoché) e pode se voltar para qualquer objeto, desde
a ciência até o pensamento religioso. Também, vimos isso no pensamento artístico
e na vida cotidiana (podemos incluir as redes sociais).
Em resumo, comparando o pensamento filosófico com
a porrada filosófica, seria um exercício crítico e reflexivo que busca
compreender e questionar diversos aspectos da existência humana. Ou seja, temos
que ir além das banalidades humanas – que Nietzsche chamava de humano demasiado
humano – e sempre ver além do que todo mundo ver, porque você não pode mais ser
mais um nessa história.
E diante dessa explicação o que seria um
pensamento filosófico, poderemos responder a segunda pergunta. Ora, pessoas
antissistema frequentemente se sentem desiludidas com as instituições tradicionais
e buscam alternativas que prometem mudanças radicais. Isso tem a com identificações
com as narrativas, onde líderes antissistema (ou dizem ser) costumam usar uma
retorica que ressoa com as frustrações e desejos de mudanças dessas pessoas. ou
melhor, se mostram como outsiders que desafiam o status quo. Também existe o
fator do carisma desses líderes que frequentemente possuem e se tornam símbolos
de resistência e esperança para os seguidores. Para isso, esse líder identificam
inimigos comuns (como a mídia, o sistema político tradicional, etc.), unindo
seus seguidores contra esses alvos e fortalecendo a coesão do grupo. Eles
tendem a oferecer soluções simples para problemas complexos, o que pode ser
atraente para pessoas que se sentem sobrecarregadas ou desiludidas com a
política tradicional. Seguir um líder antissistema pode proporcionar um forte
senso de comunidade e pertencimento, especialmente para aqueles que se sentem
marginalizados ou excluídos pela sociedade dominante.
E isso tem a ver com a “moral de rebanho” de Nietzsche.
O filosofo (do bigode, como é conhecido) descreveu um comportamento humano
submisso e irrestrito. Ele criticava essa postura, pois acreditava que ela
impedia o desenvolvimento pessoal e a verdadeira expressão da vontade
individual. No contexto de líderes políticos antissistema, podemos ver uma
conexão com a ideia de Nietzsche. Mesmo que essas pessoas se considerem contra
o sistema, elas podem acabar seguindo um líder de forma quase cega, adotando
uma "moral de rebanho" ao aceitar as ideias e direções desse líder
sem questionamento crítico.
Enfim, a “gadaiada” tem explicação filosófica.
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