Por Amauri Nolasco Sanches Júnior
Na discussão sobre inclusão poderemos chegar a conclusão que
as questões inclusivas são atos políticos. Namorar outra pessoa com ou sem deficiência,
é um ato politico. Você lutar para espaços culturais ou comerciais, são atos políticos.
Mesmo porque, politica não pode ser pensada como só um apoio partidário de uma
das esferas da polarização, mas, politica é um ato de cidadania recuperando a
etimologia do termo em grego. Se você não gosta de politica partidária – acho bastante
blasé, alias – isso não quer dizer que você não seja um ser humano fora da
politica. Como primatas – e isso é comprovado cientificamente – somos animais gregários
e temos necessidade de andar em bandos. Biologicamente, necessitamos do outro como
forma de não isolamento.
Assim, a inclusão tem a ver com a capacidade de superar
dificuldades de um corpo deficitário e hoje, essas necessidades são amenizadas
com órteses e próteses. Mas alguns podem perguntar: como não existe inclusão das
deficiências? Como não há uma tentativa de incluir crianças e pessoas com deficiência
na sociedade? Ai começa a reflexão: porque uma inclusão envolve corpos que
contem dificuldades e essas dificuldades são amenizadas com aparatos tecnológicos.
Como diria Heidegger, o homem supera sua natureza biológica graças a técnica, o
fenômeno consciente de superação máxima da amenização das dificuldades. O que Norbert
Weiner chamara de cibernética, ou seja, a técnica no seu estágio de superar o
corpo e o acidente que se ocorre dentro do déficit. O “fenômeno da deficiência”
é estético e tem a ver com a fragilidade do meio vivo, seja por falta de
elementos (oxigênio), seja por rompimento de ligas e até a coluna vertebral (as
tetra e paraplegias), seja por genética, seja para mostrar que o corpo pode ser
modificado e essa modificação – por outros corpos, talvez – não pode ser
alterada.
A questão é: somos seres humanos? Num modo biológico, sim,
somos seres humanos. Num modo social, muito poucos acham que somos humanos. Muitos
dizem para pessoas com deficiência irem para APAE – principalmente, as crianças
com TEA (Transtorno do Espectro Autista) – dizem que o único direito que temos
é nos escrever na AACD (Associação a Assistência a Criança Deficiente). O capacitismo
está nas redes sociais (ate de vídeos curtos como o Kwai e o TikTok) e essas
redes se alimentam desse “ódio” sintético que são as frustrações dos ressentidos,
que lá fora, são rejeitados ou tem atitudes de gado. O espirito de rebanho,
segundo Nietzsche, tem a ver com a incapacidade (ou a ideia dessa incapacidade)
de ser igual aqueles fortes, destemidos que podem romper o discurso do fracasso.
Por outro lado, o capital selvagem (não o capital como deve
ser), constrói a ideia devasta que temos que sempre vender (marketing) uma
imagem feliz e forte. Como dizia um professor de historia que tive, a “ditadura
da felicidade” se instala em um mundo queimado, destruído pela ganancia,
horrorizado pela politica extrema direitista e esquerdista, um mundo que na essência
mudou muito pouco. Pessoas com deficiência são excluídos em escolas (se tem que
internar nas instituições), deficientes são excluídos no trabalho (as empresas não
contratam), deficientes não são pensados nos eventos culturais (como a bienal
do livro desses anos aqui em São Paulo). Ou seja, não são incluídas as deficiências,
são incluídas a ideia (ou forma) do conceito da deficiência.
A cadeira de rodas toma espaço, muletas dá um ar de dependência,
o autismo da insegurança de uma atitude. As deficiências moldam o preconceito
por ignorância (de ignorar), uma visão ótica daquilo que se enxerga. Corpos reagem
a dor, ao desespero e a falta de empatia.
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