Wednesday, October 09, 2024

PABLO MARÇAL: O JOGO DO TIGRINHO DA POLÍTICA

 




Há, dentro e fora das redes sociais, uma discussão sobre “bets” (jogos de aposta online), e como ela pode impactar uma sociedade em um modo econômico (como as pessoas gastam em algo que, em tese, não voltaria para eles) e psicológicas (como se viciar no jogo ao ponto de não ter uma vida). Mais ainda, pois, segundo Renato Meirelles – presidente do Instituto Locomotiva – o crescimento das apostas online tem a ver com a insatisfação com os empregos. No programa Roda Viva (TV Cultura/7 de outubro), meirelles ainda faz um paralelo com Pablo Marçal, porque se o aumento de apostas online tem a ver com a insatisfação com os empregos (enriquecimento rápido), Marçal seria a grande promessa de mudança na política de mudanças rápidas.

Muito tem se discutido sobre duas coisas da nossa cultura: uma é a mesquinhez e outra é a vantagem em tudo. Uma pessoa mesquinha sempre tem um comportamento egoísta de segurar recursos (ou bens), seja dinheiro, tempo, ou até mesmo, gentileza. Suas origens pode ser de uma mentalidade de pobreza (ou escassez), onde a pessoa acha que se der um pouco, vai ficar sem nada. Isso cria toda uma “áurea” viciada de desconfiança e competição. E isso, na prática, pode ser manifestado em pequenas ações do dia-a-dia, como evitar contribuir em trabalhos em grupos ou não dividir informações uteis para todo mundo. Com o tempo pessoas desse perfil, inevitavelmente, podem perder amizades ou perder contato com membros familiares, porque ninguém gosta de sentir (ser trouxa) de uma pessoa que sempre quer levar vantagem ou não se importar em compartilhar.

Isso se mostrou claro na transformação das manifestações de 2013, que não tiveram nenhum partido ou nenhum líder outsider, para movimentos de polarização entre a direita (que se transformou em um movimento bolsonarista em 2018) e a esquerda que tem o discurso que ali já houve uma movimentação de um movimento contra Dilma Rousseff (mesmo que foi provado que o grupo Black Block, eram financiados pela a esquerda para separar as manifestações e ficar culpando eles pelo quebra). A questão é: a esquerda (que era a quebra das regras e a critica do sistema) se torna uma forma patética de conformismo e a direita bolsonarista, se torna uma forma patética de uma revolução anarcomilitar (que daria, em tese, o poder as Forças Armadas) e que se torna algo como um antissistema. Mas, no fundo, a mesquinhez esta ali com falas como: “pela minha família”, “pelo meu Deus”, “pelo meus princípios” etc,. que demonstra uma preocupação não pela sociedade brasileira, mas, seu próprio clã (isso poderemos ver entre o clã Bolsonaro).

Já a vantagem seria como estar sempre em um jogo em que só um pode vencer. Podemos dizer que seria uma mentalidade de competição extrema – como toda hora estaria em competição – onde cada pequena oportunidade de lucro ou benefício é aproveitada. Podemos enxergar isso dentro de firmas (as histórias que nosso pai conta), onde há um grande clima de competição (vantagem) em prejudicar o outro por causa de medo de ficar sem (mesquinhez). Quantas vezes as pessoas te elogiam, mas não te indicam por medo de perder teu emprego ou cargo? A mesquinhez faz com que você queira que o outro seja menos e você tenha mais, enquanto a vantagem sempre será aquilo que vai ser mais e enganar os outros. As bets são a vantagem e quando se perde, para não admitir que perdeu, se joga, joga, e muitas vezes, se perde tudo,

Mas e na política? Por que se gosta de outsiders que querem salvar da corrupção? Mesquinhez e vantagem. A figura do Bolsonaro foi vista como o grande líder que iria tirar todos os atos de corrupção, não por ética (que Aristóteles dizia que teria de ser prática), mas inveja de não estar lá participando. Todas as pessoas bem-sucedidas no Brasil são vistas como inimigas do povo, são os “milionários escrotos”. Só vê como oram algumas pessoas, termos como “me dê, meu Deus”, como se Deus fosse só dela. E assim, Pablo Marçal aparece como um novo líder que levara a todos em uma grande bonança. Será mesmo? será que quando subisse ao poder não seria um outro Bolsonaro? São questões muito mais relevantes que levantam hipóteses interessantes sobre nossa cultura e como ela foi construída, e indo mais adiante, como ela tem que ser mudada dentro de uma educação eficiente.

Meirelles não se ateve que há muito mais elementos culturais do que elementos de hoje, pois, há vícios muitos sérios que deveriam ser repensados dentro do Brasil. Os grandes especialistas e intelectuais sempre analisaram as coisas do Brasil fora da realidade da nossa cultura, fora das periferias, fora das origens brasileiras.


Amauri Nolasco Sanches Júnior

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