Há, dentro e fora das redes sociais, uma discussão sobre “bets”
(jogos de aposta online), e como ela pode impactar uma sociedade em um modo econômico
(como as pessoas gastam em algo que, em tese, não voltaria para eles) e psicológicas
(como se viciar no jogo ao ponto de não ter uma vida). Mais ainda, pois,
segundo Renato Meirelles – presidente do Instituto Locomotiva – o crescimento
das apostas online tem a ver com a insatisfação com os empregos. No programa
Roda Viva (TV Cultura/7 de outubro), meirelles ainda faz um paralelo com Pablo Marçal,
porque se o aumento de apostas online tem a ver com a insatisfação com os
empregos (enriquecimento rápido), Marçal seria a grande promessa de mudança na política
de mudanças rápidas.
Muito tem se discutido sobre duas coisas da nossa cultura:
uma é a mesquinhez e outra é a vantagem em tudo. Uma pessoa mesquinha sempre tem
um comportamento egoísta de segurar recursos (ou bens), seja dinheiro, tempo,
ou até mesmo, gentileza. Suas origens pode ser de uma mentalidade de pobreza
(ou escassez), onde a pessoa acha que se der um pouco, vai ficar sem nada. Isso
cria toda uma “áurea” viciada de desconfiança e competição. E isso, na prática,
pode ser manifestado em pequenas ações do dia-a-dia, como evitar contribuir em
trabalhos em grupos ou não dividir informações uteis para todo mundo. Com o
tempo pessoas desse perfil, inevitavelmente, podem perder amizades ou perder
contato com membros familiares, porque ninguém gosta de sentir (ser trouxa) de
uma pessoa que sempre quer levar vantagem ou não se importar em compartilhar.
Isso se mostrou claro na transformação das manifestações de
2013, que não tiveram nenhum partido ou nenhum líder outsider, para movimentos
de polarização entre a direita (que se transformou em um movimento bolsonarista
em 2018) e a esquerda que tem o discurso que ali já houve uma movimentação de um
movimento contra Dilma Rousseff (mesmo que foi provado que o grupo Black Block,
eram financiados pela a esquerda para separar as manifestações e ficar culpando
eles pelo quebra). A questão é: a esquerda (que era a quebra das regras e a
critica do sistema) se torna uma forma patética de conformismo e a direita
bolsonarista, se torna uma forma patética de uma revolução anarcomilitar (que
daria, em tese, o poder as Forças Armadas) e que se torna algo como um
antissistema. Mas, no fundo, a mesquinhez esta ali com falas como: “pela minha família”,
“pelo meu Deus”, “pelo meus princípios” etc,. que demonstra uma preocupação não
pela sociedade brasileira, mas, seu próprio clã (isso poderemos ver entre o clã
Bolsonaro).
Já a vantagem seria como estar sempre em um jogo em que só um
pode vencer. Podemos dizer que seria uma mentalidade de competição extrema –
como toda hora estaria em competição – onde cada pequena oportunidade de lucro
ou benefício é aproveitada. Podemos enxergar isso dentro de firmas (as histórias
que nosso pai conta), onde há um grande clima de competição (vantagem) em prejudicar
o outro por causa de medo de ficar sem (mesquinhez). Quantas vezes as pessoas
te elogiam, mas não te indicam por medo de perder teu emprego ou cargo? A mesquinhez
faz com que você queira que o outro seja menos e você tenha mais, enquanto a vantagem
sempre será aquilo que vai ser mais e enganar os outros. As bets são a vantagem
e quando se perde, para não admitir que perdeu, se joga, joga, e muitas vezes,
se perde tudo,
Mas e na política? Por que se gosta de outsiders que querem salvar
da corrupção? Mesquinhez e vantagem. A figura do Bolsonaro foi vista como o
grande líder que iria tirar todos os atos de corrupção, não por ética (que Aristóteles
dizia que teria de ser prática), mas inveja de não estar lá participando. Todas
as pessoas bem-sucedidas no Brasil são vistas como inimigas do povo, são os “milionários
escrotos”. Só vê como oram algumas pessoas, termos como “me dê, meu Deus”, como
se Deus fosse só dela. E assim, Pablo Marçal aparece como um novo líder que
levara a todos em uma grande bonança. Será mesmo? será que quando subisse ao
poder não seria um outro Bolsonaro? São questões muito mais relevantes que
levantam hipóteses interessantes sobre nossa cultura e como ela foi construída,
e indo mais adiante, como ela tem que ser mudada dentro de uma educação eficiente.
Meirelles não se ateve que há muito mais elementos culturais
do que elementos de hoje, pois, há vícios muitos sérios que deveriam ser
repensados dentro do Brasil. Os grandes especialistas e intelectuais sempre analisaram
as coisas do Brasil fora da realidade da nossa cultura, fora das periferias,
fora das origens brasileiras.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
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